Nascido em Itinga, Doss foi tesoureiro da JPT/BA, militante do movimento negro e LGBT, e estava enquanto Secretário-Geral da União dos Estudantes da Bahia, depois de passar pelo DCE da UFBA e pelo Centro Acadêmico de seu curso
O corpo do estudante Felipe dos Santos Silva, conhecido como Felipe Doss, 26 anos, foi sepultado na tarde desta sexta-feira (10), no Cemitério Campo Santo, na Federação. O universitário morreu depois de ser baleado na cabeça durante uma tentativa de assalto no Parque São Brás, também na Federação, na noite desta quinta (9). Um carro que pode ter sido usado pelos bandidos no crime foi localizado pela polícia no início da tarde.
Durante o sepultamento, amigos da vítima contaram que ele fez aniversário em outubro e estava feliz com a formatura, prevista para acontecer em fevereiro de 2018. A cerimônia de despedida estava marcada para as 16h, mas desde cedo familiares, amigos, professores e vizinhos de Felipe lotavam o cemitério para se despedir do rapaz. Emocionados, eles trocaram abraços e levaram muitas flores. Algumas pessoas foram amparadas, e outras passaram mal e precisaram de atendimento médico.
Felipe era militante LGBTQ, por isso, uma bandeira do movimento foi colocada sobre o caixão, que deixou a capela 3 às 16h40, sob aplausos. O cortejo seguiu em silêncio até o local do sepultamento, e o espaço ficou pequeno para a quantidade de pessoas que foram dar o último adeus ao estudante. Emocionados, o pai, a mãe e o irmão caçula de Felipe, de 11 anos, eram a todo momento consolados pelos presentes.
Aos gritos de "Felipe Doss, presente, agora e sempre!", os estudantes aplaudiram, por duas vezes, o universitário antes de encerrar a cerimônia. Para o amigo da vítima Rener Bispo, 35, Felipe foi um exemplo a ser seguido. "Ele nasceu em uma família humilde que viu na educação uma forma de progresso social. Era muito dedicado aos estudos e à militância. É mais uma vida interrompida pela violência", afirmou.
Uma multidão foi se despedir do estudante (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO)
Militância e engajamento
Filho de um ambulante e uma dona de casa, Felipe Doss foi aprovado no curso de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 2009. Nesse mesmo ano, ele mudou de Itinga, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, onde vivia com a família, para a capital. Nos últimos anos, dividiu apartamento com amigos em alguns bairros de Salvador.
O coordenador de Políticas LGBT da Secretaria estadual da Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Vinícius Alves, morou por cerca de dois anos com Felipe e contou que o estudante era conhecido pelo engajamento nas causas sociais.
"Ele era um militante exemplar. Um menino jovem, que se envolveu na luta política da população LGBT, no movimento estudantil, e no movimento negro. Era um grande filho, pelo que a mãe dele nos disse. O que temos para falar de Felipe são as melhores coisas porque ele era uma referência para muitas pessoas", afirmou.
O amigo Vinícius Alves, que dividiu apartamento com Felipe: 'Era um grande filho' (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO)
O reitor da Ufba, João Carlos Salles, se manifestou pelas redes sociais logo após o crime, na noite desta quinta. Ele também esteve no sepultamento e falou da violência. "Só podemos lamentar uma situação social que leva nossos jovens, com tanto futuro, tanto talento, a encontrarem a morte violenta. Especialmente Felipe, que é uma referência para a Ufba. Era um grande militante. Isso está nos deixando muito triste. As pessoas mais próximas, e toda a universidade, hoje, está de luto. A tristeza é muito forte", disse, após o enterro.
O amigo e colega de turma, Carlos Pitanga, destacou o engajamento do jovem. "Ele participou do Centro Acadêmico de Geografia e, depois do Diretório Central dos Estudantes da Ufba, sempre defendendo as causas LGBT. Era um menino empenhado que construiu uma trajetória linda", disse.
Investigação
Felipe estava morando com amigos no Parque São Brás, na Federação, e saiu de casa para comprar um pastel quando foi assassinado. Segundo testemunhas, ele comprou o lanche e estava voltando para casa quando um carro Fiat Siena, cor prata, encostou e homens armados anunciaram o assalto. O estudante teria tentado correr, mas foi baleado na cabeça. Os bandidos fugiram sem levar nada.
O titular da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), Antônio Fernando do Carmo, responsável pela investigação do caso, contou que um carro foi encontrado abandonado próximo da Avenida Barros Reis. O veículo teve a placa arrancada e estava em um matagal, próximo a um córrego.
"Suspeitamos que os bandidos que mataram o estudante estivessem usando esse carro. Ele foi encontrado por equipes da 1ª Delegacia (Barris) e, apesar de estar sem a placa, descobrimos que ele foi tomado de assalto no dia 1º de novembro, no Imbuí. Ele também, ao que tudo indica, foi usado em outros assaltos no bairro de Brotas, horas antes da morte de Felipe", contou.
Carro localizado pela polícia (Foto: Gil Santos/ CORREIO)
O delegado disse que ainda não descartou nenhuma possibilidade sobre as causas da morte de Felipe, mas que, até o momento, os indícios apontam para latrocínio (roubo seguido de morte). A ação dos bandidos foi registrada em câmeras da região e as imagens já foram solicitadas pela polícia.
Fonte: Correio da Bahia
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