Professora da rede municipal de Lauro de Freitas, Cristiane Melo venceu a etapa regional Nordeste do Prêmio Professores do Brasil na categoria Creche, com o projeto Meu Cabelo, Minha Raiz. Promovido pelo Ministério da Educação, a iniciativa foi executada durante os cinco primeiros meses do ano letivo com crianças de 3 e 4 anos, estudantes do Centro Municipal de Educação Infantil Dr Djalma Ramos (CMEIDDR), em Vida Nova.
Cristiane trabalhou a desconstrução de modelos patriarcais utilizando práticas pedagógicas como leitura, artes e técnicas de pintura corporal, relaxamento na água, construção de máscaras com argila e embelezamento das crianças. “Estamos situados em Vida Nova, uma comunidade massivamente negra, e percebemos a necessidade de apresentar referências negras positivas no intuito de referendar e trabalhar o reconhecimento e autoestima dos pequenos”, explicou Cristiane.
Sentados no chão da sala com a mostra “Ocupa Evaristo”, trabalho com foco semelhante em educação antirracista executado na creche no segundo semestre, as crianças estavam cercadas de paredes repletas de poemas da artista negra Conceição Evaristo, e decorada com tecidos temáticos africanos. Os pequenos ouviam atentos os contos em que crianças negras são protagonistas da história. “O cabelo dela é bonito?”, indaga a professora que logo ouve o coro das crianças, “é sim!”.
Assim como na literatura em que a personagem se expressa através do cabelo e traços negros, na vida real o pequeno Thiago Pereira, de 4 anos, passou a se reconhecer depois do projeto. “Ele não gostava do cabelo”, relata a professora passando a mão na cabeça do pequeno agora repleta de dreads que são sinônimos de sua personalidade. Algo semelhante aconteceu com a aluna Sara Silva, 4 anos. “A avó da menina estava prestes a alisar, quando, através das oficinas aprendeu a cuidar e embelezar o cabelo crespo”, completou Cristiane.
O CMEIDDR, uma creche referendada e com muitos prêmios no currículo pedagógico, atende hoje 135 crianças com idade entre 0 e 5 anos. Para a professora que trabalha com crianças na faixa etária de 3 a 4 anos, a conquista é o reconhecimento de um trabalho que vem sendo aprimorado. “Precisamos continuar a construir práticas que transponham o muro da escola, para a execução de uma educação antirracista, cuja tentativa culmina em descolonizar os pensamentos de uma sociedade que valida modelos patriarcais, onde racismo, violência contra mulher, homofobia e intolerância religiosa são vista de forma naturalizada”, completou.
Com a proposta de uma educação antirracista, a unidade foi vencedora, em 2014, do prêmio Escola: Lugar de Brincadeira, Cultura e Diversidade, concedido pela Universidade do Ceará. Em 2015, venceu o XVI prêmio Arte na Escola Cidadã com o projeto Doutor Djalma Ramos e seu amor por Riachão, e mais uma premiação do Professores do Brasil com a ação Mariene: A Flor que desabrochou da nossa gente. No ano passado a unidade foi vencedora do Professores do Brasil com o projeto Carolina Maria de Jesus, uma história para aprender desde bebê. “Nós iniciamos esse trabalho continuado, trazendo sempre personalidades negras para serem apresentadas aos pequenos. É uma ação coletiva, em que todos os profissionais da Creche estão inseridos”, finalizou.
A professora Criatiane participa agora da etapa Nacional, que será divulgada no dia 29 de novembro. Do Nordeste outras cinco professoras foram selecionadas.
Fonte: ASCOM PMLF
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